A Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física
(ExNEEF), ao findar mais um ano e iniciar uma nova gestão vem por meio desta
carta expor alguns apontamentos que o MEEF (Movimento Estudantil de educação
física) reafirmou frente à atual conjuntura. Há menos de uma semana, ocorreu o
ENEEF (Encontro Nacional de estudantes de educação física), realizado em
Vitória –ES, onde o movimento conseguiu oxigenar seus debates e defesas,
reafirmando o papel do MEEF frente ao processo de reorganização do movimento
estudantil e da própria esquerda.
A ExNEEF é a entidade representativa dos estudantes de
Educação Física a nível nacional. Divide-se em uma coordenação nacional e seis
coordenações regionais, todas eleitas em plenária final a cada ano no ENEEF. As
coordenações se organizam através de seus Conselhos Nacionais de Entidades de
Educação Física (CoNEEF’s) e Conselhos Regionais de Entidades de Educação
Física (CoREEF’s), que darão conta de organizar, nacional e regionalmente, as
escolas e entidades, com espaços de formação e debate político em torno das questões
referentes às especificidades da área (formação unificada, saúde, lazer,
megaeventos esportivos, etc), em torno de questões pertinentes a universidade,
conjuntura, opressões, entre tantos outros temas. Em sua plenária final, o ENEEF
também elege as próximas sedes dos Encontros Regionais e Nacional, sendo estes
construídos nos CoREEF’s e CoNEEF’s, respectivamente.
O MEEF/ExNEEF tem por referência quatro bandeiras
históricas, a partir das quais o movimento constrói suas defesas e organiza sua
atuação. São elas: (I) A defesa da Universidade pública, gratuita e de
qualidade, referenciada nas demandas da classe trabalhadora, e que
portanto nos colocamos na contrariedade à atual Contra-Reforma Universitária,
implementada pelo governo PT; (II) A defesa da Licenciatura Ampliada
enquanto projeto de formação humana, que se contrapõe à atual fragmentação
da área entre Licenciatura e Bacharelado; (III) A regulamentação do trabalho,
em contraponto à regulamentação da profissão defendida pelo sistema CONFEF/CREF;
e (IV) A defesa de um outro projeto de sociedade, o projeto histórico
socialista.
Além de empunhar tais bandeiras, a partir de seus
posicionamentos, o MEEF constrói hoje dois instrumentos de diálogo com os
estudantes, que são a campanha “Educação física é uma só! Formação unificada Já!”, a fim de
impulsionar as lutas nos DAs/CAs em torno da pauta da formação em Educação
física; e a Campanha “Dos Megaeventos eu abro mão! Queremos moradia, saúde, esporte
e educação!” expondo o posicionamento do MEEF de contrariedade aos megaeventos
que, por trás de toda aparência do desenvolvimento e ganhos para o país,
carregam consigo a remoção de mais de 70 mil famílias, a naturalização do
genocídio da juventude negra e a afirmação do esporte espetáculo, resumido
meramente a mais uma mercadoria. Grandes investimentos na construção de
estádios, arenas, vias e rodovias, garantindo o lucro dos grandes empresários e
empreiteiros, à custa da precarização sistemática da saúde e da educação.
Em meio à crise global, que vem ano após ano se
intensificando, principalmente através da retirada de direitos dos
trabalhadores, está colocada a figura do PT e o papel que vem representando no
Brasil enquanto um partido da ordem, implementando toda a cartilha neoliberal
na qual já se baseavam Collor e FHC. Assim, o mesmo PT que nasce das
mobilizações da classe, hoje se apresenta enquanto mais um dos instrumentos de lucro
dos grandes empresários, o que se mostra na Reforma da previdência (2002), Reforma
Universitária (2004), Privatização dos Hospitais universitários (iniciada em 2010),
além de várias outras políticas de privatização da educação, saúde e do
esporte, casada com a cooptação e a criminalização dos movimentos sociais que
se colocam contrários a toda essa política.
Entendemos, portanto que o PT representa pra além de um
simples partido, mas um Projeto em andamento, o Projeto Democrático Popular. O
MEEF, mais uma vez em seu maior fórum de debates, negou tal projeto, entendendo
que o mesmo não atende às demandas da classe trabalhadora. Tendo por base essa
análise é que olhamos para as Jornadas de junho, quando pela primeira vez após
dez anos de anestesia social, se tem um questionamento de massas à política
colocada em curso pelos governos Lula/Dilma/PT.
Vivenciamos recentemente, a maior greve das Universidades
federais desde a década de 90, que conseguiu criar a unidade entre servidores,
docentes e estudantes e que, somada às mobilizações de junho, referendam uma
análise: a UNE está falida para as lutas estudantis, havendo a necessidade de
superação dessa entidade que hoje se coloca na contramão do movimento combativo
e de luta. Dessa forma, em mais um encontro nacional o MEEF reafirma a
deliberação construída em 2008 e que vem ano após ano referendando: de
rompimento com a União Nacional dos Estudantes e a necessidade posta de se
pensar novos instrumentos que consigam articular e dar unidade às lutas
estudantis.
O MEEF mais uma vez delibera que uma nova entidade, pelas
demandas do movimento e limitação do que está posto, se distancia da Assembleia
nacional dos estudantes livres (ANEL), que não consegue dar respostas concretas
as lutas estudantis, pois faz-se através de um método de construção do
movimento, que tende a esvaziar o debate político das demandas do mesmo,
subsumindo-as as demandas de partidos e coletivos organizados, expondo a
necessidade do movimento retornar às bases, disputando consciências e de reafirmar
a necessidade do novo, de um movimento estudantil autônomo, classista e
anti-governista, despido dos vícios de autoconstrução e hegemonismo que vemos
hoje na esquerda, casando esse debate da reorganização do Movimento Estudantil
com as pautas específicas, no dia a dia da base dos estudantes.
Frente a esse período, de reorganização e fragmentação da
esquerda, o MEEF se coloca em unidade nas lutas com os setores combativos e que
se colocam em contrariedade aos ditames desse governo, posição que nos fez
construir em 2011 junto a outros setores, a campanha pelos ‘10% do PIB para a
educação pública já!’, e que mais uma vez, o movimento se dispõe a essa
unidade, apontando a construção do Encontro Nacional em educação que ocorrerá
em 2014 e que vem sendo articulado por diversos setores junto ao ANDES.
Convocamos a todos os estudantes de educação física, a
construir o movimento na disputa por outro projeto de formação, de universidade
e de sociedade, e que junto aos outros movimentos e categorias, consigamos
avançar na construção de um projeto no qual o futuro se torne respirável*.
* “(...) crescemos
somente na ousadia
só quando transgrido
alguma ordem
o futuro se torna
respirável.” (M. Benedetti)
Saudações estudantis,
Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física -
Gestão 2013/2014